Quem nunca pensou em visitar o País das Maravilhas? Tomar chá com o coelho, ter um gato flutuante que aparece e desaparece, comer doces e chocolates diversos e ainda poder diminuir de tamanho uma fatia de bolo mágico. É a fantasia de toda criança que leu ou assistiu “Alice no País das Maravilhas”, poder visitar esse lugar cheio de magia e coisas boas.
Então, em 2000, American McGee apresentou um novo conceito de Alice para o mundo, trocando as madeixas louras pelo castanho escuro em uma menina problemática, que provavelmente assassinou os pais e comprou um passaporte sem volta para o reino da loucura.
É exatamente assim que, onze anos depois, a mesma menina, agora mulher e crescida, tem acessos de loucura mais violentos e nos leva a um País das “Maravilhas” ainda mais bizarro. Toda essa fantasia está reunida em Alice: Madness Return, lançado para PS3, Xbox 360 e PC.
Insanidade: um caminho sem volta
A loucura de Alice teve início quando um incêndio findou a vida do pai, mãe e irmã da moça. A vizinhança acusou a pequena menina de ter causado a tragédia. Sem lembranças do ocorrido e terrivelmente perturbada, ela acaba sendo internada em um hospício. Cheshire, o gato, com uma aparência obscura, piercings na orelha e sangue em seu pelo, pede para que a garota retorne ao que outrora foi o País das Maravilhas e, faca em punho, ela enfrenta os mais terríveis e bizarros desafios.
Ao retornar, Alice é submetida a um tratamento psiquiátrico fortíssimo no orfanato em que passou a viver. Onze anos depois, ainda buscando respostas para a morte de sua família, a garota faz um passeio pela cidade e encontra um gato branco, que faz a garota seguir por uma trilha escura, até que, por fim, um buraco surge no chão e a leva de volta ao sujo e devastado País das Maravilhas.
American McGee conseguiu deixar a visão do País das Maravilhas ainda mais perturbadora. Ao chegar, o vestidinho pobre e rasgado de Alice é trocado pelo mesmo que ela vestia no primeiro game: azul e branco, com manchas de sangue. No decorrer da aventura, as vestimentas adquirem outros modelos. Há uma versão preta, mais gótica, com espinhos e outros adornos, até mesmo uma versão vermelha temática de cartas de baralho. Uma coleção de inverno para causar inveja a diversas meninas da cidade.
No começo do primeiro capítulo, tudo é muito florido, colorido e bem verde, mas não se assuste: toda a bizarrice começa logo em seguida. Você adquire a Vorpal Blade para eliminar a primeira leva de inimigos, soldados com chapéu de panela que atacam com garfos. Mais para frente, Alice recebe outras armas, que incluem uma metralhadora de pimentas e um cavalinho de pau assassino.
A jogabilidade é bem semelhante ao primeiro game, com visão em terceira pessoa. Os controles são bem simples, com botões de ataque fraco, forte, esquiva e defesa. É possível dar um salto triplo pelo ar e, mantendo o botão de pulo pressionado, Alice flutua para alcançar lugares mais distantes, no maior estilo Princesa Peach na versão americana de Super Mario 2. Ao esquivar de ataques, ela se transforma rapidamente em centenas de borboletas, para então assumir sua forma real e contra-atacar o inimigo.
Em toda fase, focinhos de porco ficam espalhados em pontos específicos. Eles servem para desvendar caminhos secretos ou abrir atalhos e geralmente estão escondidos. Você deve se guiar pelo barulho para encontra-los, mirar com a metralhadora e atirar até que eles espirrem. Outra maneira de desvendar caminhos secretos é tomando a poção para diminuir: Alice fica minúscula, podendo atravessar por buracos de porta e encontrar suas memórias ou garrafas com bebidas alcoólicas, para sua coleção.
A loucura está de volta e melhorada!
Alice sabe que está louca e não faz questão de esconder isso. Ela agride a todos, xinga, reclama da sujeira e podridão dos lugares. Em contra partida, nenhum dos moradores do País das Maravilhas quer a presença da moça e sempre a acusam de ter destruído o lugar ou ter matado sua família. No fundo, ela sabe que não tem culpa, mas quer achar o causador do problema.
As versões bizarras dos personagens completam toda a loucura do game. Cheshire, o gato, continua com seu visual de gato de rua abandonado. O Chapeleiro Maluco possui um corpo mecânico, assim como o Coelho e o Rato, que possuem pernas ou braços robotizados, respectivamente. Para ajudar, todas as deturpações com os cenários deixam o clima ainda mais tenso para a garota.
Apesar de um enredo bem trabalhado, Madness Return peca por conta dos bugs, alguns slowdowns e falta de capricho. Em um momento do segundo capítulo, a personagem ficou presa embaixo de uma escada com a tela toda tremendo como se estivesse acontecendo um terremoto. Muitos personagens na tela deixam as coisas mais lentas, não tanto quanto aconteceu durante nosso hands-on com a demonstração do game, mas ainda assim, faltou um pouco de atenção nesse sentido.
Alice é apenas uma boneca jogada no cenário, sem expressões, apenas mexendo a boca durante os diálogos. Embora seja impressionante como os cabelos dela se movimentam, como se tivesse sido desenhados um a um, os braços e armas atravessa as texturas dos vestidos e algumas coisas do cenário. Não seria difícil melhorar essa parte física do jogo, mas, talvez pela pressa para o lançamento do jogo, falta prestar atenção em detalhes como esse.
Comentários finais
Voltar à versão insana do País das Maravilhas foi algo bem prazeroso. Desde o final do primeiro game, sempre esperei por uma continuação para a franquia. A espera não foi decepcionante: os cenários são ricos em detalhes, a trilha sonora dá um toque macabro que condiz com a temática do jogo, além de ser muito bem produzida e a história beira uma insanidade tão grande quanto o resultado final do game.
Alice: Madness Return não acabou sendo o melhor jogo do ano, mesmo numa lista com cinco indicados, mas merece a atenção dos fãs, seja do conto original, seja pela loucura de American McGee. Ah, e não deixe de tomar um chá em seguida.
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