Falar de Counter-Strike é como falar de uma verdadeira lenda dos jogos. Afinal de contas, quem diria que uma mera modificação de um game poderia impactar a indústria do entretenimento eletrônico de uma maneira sem precedentes? O fato é que CS, como também é conhecido, é um dos jogos mais populares de todos os tempos, responsável não somente por dar força à comunidade de desenvolvedores independentes, mas também por alavancar os esportes eletrônicos e, obviamente, oferecer muita diversão ao redor de todo o mundo.
O mod de Half-Life surpreendeu ao mundo, inclusive a seu criador, o vietnamita, naturalizado canadense, Minh Le. Felizmente, a Valve enxergou o potencial do título ainda em suas versões de testes, contratando os desenvolvedores e consolidando Counter-Strike como uma das maiores febres de todos os tempos.
O jogo já tem mais de uma década de vida e ainda continua firme e forte no cenário competitivo. Além disso, suas outras versões também são populares, como é o caso de Counter-Strike: Source, que é um dos títulos mais jogados no serviço de distribuição digital Steam.
E, para esquentar ainda mais os ânimos dos fieis fãs, a Valve decidiu anunciar mais um jogo da série: Counter-Strike: Global Offensive. Para aproveitar o retorno da franquia, que já vendeu mais de 25 milhões de cópias, resolvemos contar um pouco da trajetória desta febre que, felizmente, está longe de acabar.
Por um jogo mais realistaA vontade de Minh Le
Em uma época em que os títulos de tiro em primeira pessoa se resumiam a games cuja proposta era aniquilar alienígenas ou demônios, o desenvolvedor de jogos Minh Le decidiu fazer algo diferente. Ao dar de cara com Quake, um dos pioneiros do gênero, Le teve uma ideia simples e determinada: criar um jogo mais realista.
Com isso, após adquirir um kit de desenvolvimento do game, Le inicia a concepção de Navy SEALs, um título que, como o nome sugere, trazia operações dos fuzileiros navais dos Estados Unidos. O jogo foi criado em cima do que a equipe da id Software, responsável por Quake, já havia feito com o game, e Le apenas alterou algumas características, aproveitando a engine e vários elementos de Quake. Eis que surgia um mod que daria origem a Counter-Strike — é possível notar claramente as semelhanças entre os games.
Posteriormente, Quake 2 chega ao mercado. Novamente, Le, ainda empolgado com sua ideia, decide aproveitar as novidades do título para aprimorar sua obra. É assim que surge Action Quake 2, um jogo com função multiplayer que era como uma evolução de Navy SEALs. O esqueleto de Counter-Strike já ganhava seu formato final.
Finalmente, em 1998, a indústria dos games recebia um dos títulos mais marcantes de toda a história: Half-Life. O excelente FPS para PC chamou a atenção de muitos jogadores e Le, obviamente, não ficou fora dessa.
O desenvolvedor então decide continuar com sua ideia, agora com uma engine ainda mais poderosa. Enquanto criava seu mod realista em cima de Half-Life, Le acaba conhecendo Jess Cliffe, que também começou a trabalhar exaustivamente no game.
A empolgação foi tão grande que Le acabou deixando de lado seu curso de Ciência da Computação, dedicando-se inteiramente ao mod, que ganhava sua fase beta em 1999. Cliffe também mostrava empenho, gravando, sozinho, os característicos comandos de voz que aparecem no game até hoje.
Após diversas versões betas, a versão 1.0 finalmente é lançada no ano 2000. O jogo já vinha conquistando o público, mas só recebeu a visibilidade merecida quando a Valve decidiu apostar no game, ao lado da distribuidora Sierra. Com isso, Counter-Strike começa a ser vendido como uma expansão de Half-Life, em formato físico. A febre de CS estava prestes a contaminar o mundo.
Finalmente, Counter-Strike começava a dominar os PCs de uma vez por todas. Seu esquema ágil de jogabilidade fez de CS o título multiplayer mais jogado via internet, marcando para sempre a indústria dos jogos. Mesmo após seu lançamento, o game recebeu várias atualizações até finalmente chegar à sua versão 1.6, que foi lançada junto com a chegada de nada menos que o próprio Steam.
O mundo joga Counter-StrikeSurgem as LAN Houses
Certamente, o impacto do game foi totalmente surpreendente, conquistando várias partes do mundo em pouquíssimo tempo. No Brasil, a situação não foi diferente. Logo, Counter-Strike começava a invadir os lares de alguns jogadores privilegiados que, na época, já contavam com uma conexão boa o suficiente para permitir uma jogatina sem o famoso lag.
Mas, o título realmente se tornou febre quando começaram a surgir as LAN Houses. Inicialmente, essas lojas permitiam que os usuários tivessem acesso à internet banda larga por um determinado preço, algo que facilitava a vida de muita gente que estivesse longe de casa.
Entretanto, a popularização dos jogos online e em rede fez dessas casas verdadeiros centros de jogatina. Counter-Strike simplesmente dominou as LAN Houses, servindo até de incentivo para a abertura de novas lojas em todo o Brasil. Incrivelmente, tínhamos um game que movimentava um novo tipo de negócio.
Assim, começam a surgir LAN Houses por toda parte, permitindo que os jogadores desfrutassem de uma experiência que, até então, era relativamente rara. Você e seus amigos participando de combates contra outras pessoas e sem precisar dividir a tela. A sensação proporcionada por Counter-Strike era realmente bacana, obrigando os jogadores a utilizarem trabalho em equipe e aproveitando, com muita eficiência, os recursos oferecidos por um jogo multiplayer.
As LAN Houses continuaram crescendo cada vez mais e o público do game também amadureceu. Claramente, Counter-Strike contava com uma proposta diferenciada de muitos jogos e que se encaixava perfeitamente para os moldes de um verdadeiro esporte. E é aí que começa a surgir os e-sports (Electronic Sports, ou esportes eletrônicos).
Ganhando para jogarCounter-Strike é a nova profissão
No mundo todo, jogadores começavam a formar times especializados em Counter-Strike, disputando partidas sérias e sob regras restritas. Isso também leva ao surgimento de diversas organizações que visavam justamente dar mais consistência ao esporte, organizando campeonatos e criando regras cada vez mais equilibradas.
O cenário competitivo mundial atingiu padrões sem precedentes, com times e jogadores do mundo todo se dedicando totalmente ao game, que virou uma verdadeira profissão. Jogadores treinavam diariamente por longos períodos, criando táticas para cada um dos mapas e aprimorando suas habilidades e reflexos, algo essencial para o game.
Alguns exemplos de grandes eventos incluem a Cyberathlete Professional League (CPL), hoje extinta, e a World Cyber Games (WCG), que continua firme e forte, trazendo não somente campeonatos de Counter-Strike, mas também de outros games. E, por falar em firme e forte, por incrível que parece, um jogo com mais de 10 anos de idade continua como uma das principais modalidades destes grandes eventos.
Clãs se tornaram verdadeiros times, sendo reconhecidos por toda a comunidade ao longo dos anos. Os suecos do Ninja in Pyjamas (NiP) talvez sejam um dos exemplos mais clássicos, ao lado de times como Schroet Kommando (SK), NoA e diversos outros, que ficaram tão conhecidos como equipes de futebol do Campeonato Brasileiro. Além disso, surgiram diversas estrelas nas equipes, como é o caso de HeatoN, Spawn e o brasileiro Cogu.
O Brasil e o futuro da série“CS is not dead!”
Brasileiro? Sim, o Brasil também marcou presença nos e-sports. Times como MiBR e g3x já conquistaram campeonatos mundiais, superando equipes internacionais e se consolidando como as melhores equipes do cenário.
E hoje? Atualmente, conforme já mencionamos, o cenário competitivo de Counter-Strike continua ativo. Vários times novos surgiram em nosso país, como é o caso do FireGamers, semXorah, Golden Glory e diversas outras equipes de qualidade. Felizmente, os jogadores continuam evoluindo, trazendo novas dinâmicas para o título e inovando nas táticas e na habilidade.
E o futuro? Sem dúvidas, a Valve ainda aposta em uma de suas séries mais populares. A prova disso é Counter Strike: Global Offensive. O novo game deve trazer um estilo de jogo mais semelhante ao que foi visto em Counter-Strike 1.6, dando espaço para o cenário competitivo — algo que, para muitos jogadores, não aconteceu com Counter-Strike: Source.
Não há como negar a força de Counter-Strike. O título surgiu como uma simples modificação e chegou a superar o jogo original em popularidade, se tornando um dos jogos multiplayers mais populares de todos os tempos. Resta esperar para conferir se a Valve conseguirá manter seu sucesso em uma geração em o que gênero FPS sofreu tantas mutações. Que comece o tiroteio!
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